quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

O Pagador de Promessas - Dias Gomes

(...)

Entram os capoeiristas conduzindo primeiro uma tenda de pano já armada e em seguida um colchão de molas. Na tenda, há um letreiro: Oferta da Casa da Lona. No colchão há outro: Gentileza da Loja Sonho Azul. Com enorme espanto de Zé-do-Burro e Rosa, eles colocam a barraca no meio da praça e o colchão dentro da barraca.

REPÓRTER
Fomos aos nossos clientes e eles se dispuseram prontamente a colaborar conosco.

Entra o Fotógrafo trazendo uma mesinha e um aparelho de rádio de pilha, que coloca também na barraca.

ZÉ (Surpreso)
O senhor trouxe essas coisas... pra nós?

REPÓRTER
Bem julgamos que um pouco de conforto durante esses dias não reduzirá também o valor de sua promessa. Além disso, segunda-feira, depois da entrada triunfal na igreja, o senhor percorrerá a cidade em carro aberto, com batedores, num percurso que irá daqui até a redação do nosso jornal. De lá irá ao Palácio do Governo, onde será recebido pelo Governador. (Zé vai dizer qualquer coisa e ele o interrompe) Já sei: vai dizer que se o vigário de Santa Bárbara não o deixar entrar em sua igreja, o Governador vai também lhe bater com a porta na cara. Não se preocupe. Já estamos mexendo os pausinhos. E se o senhor puder dizer uma palavrinha a favor do candidato oficial nas próximas eleições, estará tudo arranjado.

ROSA
Por favor, leve tudo isso daqui. Nós estamos de partida.

REPÓRTER
De partida? Não, não pode ser... isso seria um desastre para mim... O jornal já fez despesas... já compramos foguetes, contratamos uma banda de música para a volta...

ROSA
A volta vai ser hoje mesmo.

REPÓRTER
Hoje?! Mas não dá tempo!... Não está nada preparado... O que é que a senhora pensa? Que é assim tão simples organizar uma promoção de venda? É muito fácil pegar uma cruz jogar nas costas e andar sete léguas. Mas um jornal é uma coisa muito complexa. Mobilizar todos os departamentos para dar cobertura... e depois, eu já lhe disse, amanhã é domingo, não tem jornal!

ROSA (Irritando-se)
E qual é o meu?! Que se dane o seu jornal! Eu quero é ir embora daqui! O Zé tem razão, vocês todos querem ajudar, ajudar... ajudam mais é a desgraçar a vida da gente.




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